Você está aqui: Página Inicial > Contents > Páginas > Acervo Brazinst > Cordofones > Rabeca
conteúdo

Notícias

Rabeca

Cordofone composto do tipo alaúde, portável, com braço acoplado à caixa de ressonância
publicado: 06/04/2019 22h34, última modificação: 31/07/2019 21h22
Mestre Luiz Paixão com rabeca do Mestre Antônio Merengue (Araújo Neto, 2014)

Mestre Luiz Paixão com rabeca do Mestre Antônio Merengue (Araújo Neto, 2014)

A rabeca, que tem como variantes léxicos rabé, rabel, rebel, rabil, raben, rabec, rebec, rabeca, rebeca, rubeba, rabebillo, rebequim, rabequim, e rabecão (os quatro últimos diminutivos e aumentativos), arrabil, arabin, arrabin, orabin, raben, garavi, aravi (!) e rebab (Andrade, 1989, p. 423-424) é um cordofone composto do tipo alaúde, portável, com braço acoplado à caixa de ressonância (321.322 CH). É muito difícil falar em uma origem específica da rabeca, mas sabe-se que é um instrumento medieval árabe que tornou-se popular na Península Ibérica no período da invasão dos mouros. De um homem educado, que vivesse ao redor do ano de 1200, esperava-se que soubesse tocar a flauta, a viela, a harpa, a rebeca e o saltério. Além disso, a rabeca foi, de 1200 a 1500, um dos instrumentos de corda mais utilizados na música instrumental, juntamente à viela e à tromba marina. Chegou ao Brasil pelas mãos dos colonizadores e ganhou formas e timbres peculiares a cada região brasileira, tendo encontrado no Nordeste terreno fértil para seu desenvolvimento. (Harnoncourt, 1993, p. 14)

É formada por cordas, braço, cavalete, cabeça ou voluta, botão, espelho, cravelha, pestana, ouvidos ou efes, estandarte, fundo de costas ou tampo, crina, ângulo, alma e aro (terminologia oficial). Geralmente, é composta por quatro cordas (cordofone tetracórdio), mas também é encontrada com três e, mais raramente, cinco cordas. O arco é composto de uma haste de madeira onde são esticadas a crina (rabo de cavalo) ou os fios de nylon que, untados com o breu, fazem o atrito com as cordas para produzir o som. As cordas eram de tripa ou crina, mas hoje podem ser tanto de cavaquinho ou violão (rabequeiros de tradição), quanto de guitarrra (rabequeiros mais próximos da música urbana). Também é possível encontrar rabecas com cordas de violino ou viola de arco. Dentre as partes da rabeca, podemos conferir especial destaque à alma, cuja simbologia é significativa. Ela serve para unir os dois “testos” (tampos) de tal forma que a vibração das cordas seja transmitida por meio do cavalete e da alma ao “testo” de baixo, fazendo com que o instrumento vibre por inteiro e melhorando a ressonância. Pessoas sem conhecimento da acústica do instrumento veem como surpreendente o fato de a rabeca possuir uma alma, conferindo a este item uma explicação metafórica e, às vezes, até metafísica. Entre os rabequeiros, diz-se que vem dela a capacidade da rabeca emocionar profundamente. (Araújo Neto, 2016)

"Uma rabeca em casa, não precisa nem tocar... É só colocar assim na parede que coisa ruim não entra de jeito nenhum!", conta o rabequeiro paraibano Antônio Merengue

O instrumento é construído a partir dos materiais que se tem à mão, madeiras existentes na região e que ofereçam condições de serem trabalhadas para produzir boas vibrações sonoras. (Araújo Neto, 2016)

A afinação da rabeca, geralmente, é em quintas, facilitando o acompanhamento ao canto, muitas vezes do rabequeiro, e a instrumentos de afinação não harmônica (temperada), como um teclado. Há, ainda, a afinação num acorde maior, mais adequada ao acompanhamento de cantos improvisados.Apesar de ter se arraigado fortemente no Nordeste do país, especificamente na zona rural, a rabeca disseminou-se e encontrou nichos em todas as regiões brasileiras. (Araújo Neto, 2016) É parte do teatro de bonecos, conhecido como “babau” na Paraíba e “mamulengo” em Pernambuco, onde também encontrou espaço no bumba meu boi e no cavalo marinho, neste acompanhando o canto e instrumentos de percussão. No Pará, é registrada na marujada, também presente no litoral paranaense, enquanto que em Minas Gerais está na folia de reis. Já em São Paulo, é usada nas funções, folganças ou fandango, na folia-do-divino, moçambique, congadas e na dança de São Gonçalo. (Barbosa, 20--)

 

Maria Luiza Garcia Caldas

 

Referências

Andrade, Mário de. Dicionário Musical Brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1989.

Araújo Neto, J. N. A construção da rabeca: Idiossincrasias do Mestre Antônio Merengue. 2016. 121 f. Dissertação (Mestrado em Música, área de concentração em etnomusicologia) – CCTA, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. 2016.

Barbosa, Virgínia. Rabeca. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=986%3Arabeca&catid=52%3Aletra-r&Itemid=1>. Acesso em: 18 mar. 2019.

Harnoncourt. O Diálogo Musical: Monteverdi, Bach e Mozart. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. p. 14.

Marcondes, Marcos Antônio. Enciclopédia da Música Brasileira: Erudita, folclórica, popular. 1977.