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Viola de buriti

Cordofone original da região do Jalapão/TO. Possui quatro ou cinco cordas sendo mais comum a de quatro na seguinte afinação E2, A2, C#3, E3.
publicado: 17/01/2022 20h00, última modificação: 31/08/2022 07h44

Viola de Buriti, s.f. ou violinha, ou ainda, violinha de vereda, é um cordofone original da região do Jalapão/TO. Possui quatro ou cinco cordas sendo mais comum a de quatro na seguinte afinação E2, A2, C#3, E3.

Diferente das outras violas brasileiras, “não possui tampo nem fundo ou bojo” e sim o talo de buriti ocado e dividido em três partes. Duas partes menores do talo do buriti, (Mauritia flexuosa), acopladas num talo inteiro central reforçam e formam a caixa de ressonância. A peça central é um talo inteiro, maior e com uma pequena abertura na parte central referente ao corpo da “caixa” de ressonância e desse mesmo talo se estende o “pescoço” (braço) que não possui trastes. Os cravalhais e a “cabeça” da viola são feitos com Plathymenia foliolosa conhecida popularmente como vinhatico, madeira presente na região. Essa diferença das madeiras ajudam na sonoridade do instrumento musical.

Entendemos a viola de buriti como um (3) cordofone (3.2.) composto (3.2.1.) da família dos alaúdes (3.2.1.3) com braço (3.2.1.3.3) esculpido direto do ressonador (3.2.1.3.3.2) com caixa, segundo o sistema Hornbostel-Sachs, e acrescentaríamos na classificação (3.2.1.3.3.2.3) o formato original de jangada.

Originalmente as cordas eram feitas com seda do olho de buriti ou sedém do cavalo e presas numa tira de couro fixada na peça central funcionando como uma espécie de cavalete. (BONILLA, 2017). Com o tempo adquiriu do violão o cavalete e as cordas de nylon que podiam ser também linhas de pesca. A cabeça (equivalente ao cravelhal) é esculpida em vinhático e acoplada no extremo do braço com tarrachas afinadoras que podem ser da mesma madeira ou também industrial. (TEODORO; BARDO, 2022.)

Na região do Jalapão/TO, a viola de buriti é encontrada em comunidades como Mateiros, Mumbuca e Vila Nova. (TEODORO; BARDO, 2022.). Segundo o etnomusicólogo Marcus Bonilla é na “Roda Chata” que encontramos o toque da viola. A roda chata é um tipo de ciranda marcada pela essência modal, que segundo o, caracteriza um traço de resistência contra hegemônica à estética clássico-romântica ocidental. O toque da viola é essencialmente reverberada pela oralidade através das gerações, os mais jovens interessados aprendem com os mais experientes nas rodas e festinhas da comunidade, que ocorriam costumeiramente nas áreas de plantações. A manifestação do toque da violinha, como também é conhecida, na região não está ligada essencialmente aos ritos eclesiásticos, mas tem grande importância na construção da identidade local através da exaltação e orgulho das riquezas da terra, que sustentam as pessoas dali de forma integrada e sustentável com o meio ambiente. (BONILLA, 2019, p. 65)

Bonilla também comenta sobre a ausência de registros sobre o instrumento, o que sugere que a prática das “rodas chata” e o uso da viola para diversão das pessoas era de certa forma “criminalizada” restringindo o contato com essa cultura às pessoas mais diretamente ligadas a manifestação (2019, p.114). Hoje em dia o quilombo se autodeclara da religião evangélica o que influenciou as letras em algumas canções. Em paralelo a tradição de tocar viola de buriti segue, enaltecendo as belezas da terra, os meios de subsistência e o pertencimento da viola de buriti na identidade das comunidades da região do Jalapão/TO.

Através de dados das redes pude perceber alguns nomes que são referências na viola de buriti na região: Mestre Abelo; Mestre Lira; Maurício da Viola; Xirota (Quirino da Silva Rodrigues); Nonato Ferreira, o Buza; mestre Valmir e mestre Arnon. O nome mais citado e conhecido hoje em dia e que tem apresentado a viola tanto aos turistas quanto levando para outros estados do Brasil é o Maurício da Viola. “A primeira viola de buriti foi criada e projetada por seu avô, Antônio Biato.” (SILVEIRA, 2015-2016).

 

Referências:

ARAÚJO, Alceu Maynard. Instrumentos musicais e implementos. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, v. 20, n. 157, jul./dez. 1953.

BONILLA, Marcus Facchin. Minha viola é de buriti: uma etnomusicologia aplicada-participativa-engajada sobre a musicalidade no quilombo Mumbuca, no Jalapão (TO). Orientadora: Sônia Maria Moraes Chada. 2019. 204 f. Tese (Doutorado em Artes) - Programa de Pós-Graduação em Artes, Instituto de Ciências da Arte, Universidade Federal do Pará, Belém, 2019. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/11410. Acesso em: 20/04/2022.

MORAES, André Aparecido de Souza. Viola brasileira, qual delas? Revista da Tulha, [S.L.], v. 6, n. 1, p. 9-35, 6 abr. 2020. Universidade de São Paulo, Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA). Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadatulha/article/view/166626. Acesso em: 18 abr. 2022.

VIOLA de buriti. Marcus Bonilla. Jalapão: Publicado pelo canal Marcus Bonilla, 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_CINPUjabJM

SILVEIRA, Fernanda (ed.). Violas brasileiras: circuito 2015-2016. Rio de Janeiro: SESC, departamento nacional, 2015-2016. 56 p. ISBN 978-85-8254-044-2. Disponível em: migly.in/FtD0. Acesso em: 5 abr. 2022.

Vídeo Documentário: Maurício Ribeiro da Viola de Buriti do Jalapão. Leandro Theodoro. Breno Bardo, 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AxPeTzRcZVs


Sonoridades:
Websérie como fazer viola
A viola de Buriti
Mestre Lira