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Viola de dez cordas

Cordofone composto, ou seja, o suporte das cordas e o ressonador forma um todo integral, indissociável. Alaúde com braço colado: o cabo é acoplado ao ressonador em forma de caixa.
publicado: 20/03/2021 20h00, última modificação: 30/08/2021 00h25

Viola s.f. A viola é um instrumento de cordas bastante presente no Brasil, que apresenta várias especializaçoes e nomes, como viola de arame, viola sertaneja, viola caipira, viola cabocla, viola nordestina, viola de repente, viola de folia e viola brasileira.

De acordo com o sistema de classificação apresentado por Montagu, atualizado pelo projeto MIMO, podemos classificar a viola como 3.2.1.3.2.2. Isso indica que o instrumento é um cordofone composto, ou seja, o suporte das cordas e o ressonador forma um todo integral, indissociável. É um alaúde com braço colado, ou seja, o cabo é acoplado ao ressonador em forma de caixa.

As partes constituintes do instrumento seguem descritas a seguir:

Viola

1 cravelha 

2 pestana ou trasto zero 

3 trasteira, espelho, palheta ou escala 

4 castanha ou pé do braço 

5 aro, faixa lateral, cinta ou ilharga 

6 cravelhal, cravelheira, palma ou cabeça 

7 trasto, tasto ou ponto 

8 casa 

9 boca ou abertura 

10 cintura ou enfraque 

11 cavalete 

12 pino 

13 contracavalete ou espinha 

14 tampo ou testo sonoro 

15 cordas 

16 braço 

17 bojo superior 

18 bojo inferior 

19 fundo, costas ou texto de baixo 

20 roseta 

21 furo (Corrêa, 2000, p. 31 APUD ASSIS VALERIANO p. 18-20)

É um cordofone derivado da viola portuguesa, popularizado no Brasil a partir do século XVI. Câmara Cascudo assim descreve o verbete “viola”, como também traz alguns apontamentos sobre afinação e material:

Instrumento de cordas dedilhadas, cinco ou seis, duplas, metálicas. Tendo seis cordas, repetem o mi ou o si. O encordoamento era de aço, as duas primas e segundas, a terceira de metal amarelo (latão), o bordão de ré, de aço, o de lá e o de mi, de latão. No nordeste, a maioria tem dez trastos.  (2001, p. 909)

Podemos identificar algumas indicações gerais do instrumento na definição de Ivan Vilela, considerando os diferentes usos e evoluções desse instrumento em território brasileiro:

A viola é composta por cordas duplas agrupadas em cinco ordens. É possível encontrá-la também com doze cordas, sendo três pares e duas cordas triplas, mantendo assim a ideia das cinco ordens. Como o violão, possui um bojo, um braço e uma mão, onde se afinam as cordas. O braço é dividido em espaços chamados casas ou pontos. Fracionam a escala em semitons. O bojo ou corpo é construído, normalmente, com dois tipos de madeiras. Uma mais macia no tampo (frente) e outra mais dura nos lados e no fundo do instrumento. Hoje em dia encontramos madeiras diversas utilizadas na confecção das violas, embora o modelo mais usual seja o de pinho, no tampo, e jacarandá nos lados e no fundo. (Vilela, 2010, p. 332)

A viola, apontada por Taborda como antecessora do violão (TABORDA, 2011, p. 47 apud RUAS, 2016, p. 214), apareceu em Portugal, depois da chegada dos mouros na península ibérica, através do instrumento árabe chamado oud, "genitor, no Ocidente, de todos os instrumentos de cordas dedilhadas que possuam um braço em que as notas possam ser modificadas."(VILELA, 2004, p. 78) Da cultura árabe, também advieram as formas literárias do repente nordestino, como galope-a-beira-mar, martelo agalopado, quadrão e sextilha, associados ao uso da viola. Na época em que se deu início ao processo de exploração e colonização do Brasil, tinha grande popularidade na música da corte portuguesa e na do povo, além de também ser utilizada pelos jesuítas para o trabalho de catequese, exercendo funções na Igreja dentro do projeto da Companhia de Jesus de evangelizar os indígenas. Por isso que o vemos tão presente nas mais diversas esferas geográficas brasileiras. (VILELA, 2004, 2010)

Presentes em ambientes rurais e urbanos, as seguintes violas são encontradas no Brasil: as beiroas, dos fandangos do litoral sul de São Paulo e norte do Paraná; as violas de Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete (MG), do norte de Minas, que têm doze cordas (três duplas e duas triplas); as violas dinâmicas dos repentistas nordestinos, modelo brasileiro cujos amplificadores naturais são feitos com cones de alumínio, normalmente encontradas com doze cordas distribuídas em cinco ordens; as violas de cocho, encontradas no Mato Grosso, feitas a partir de madeira escavada, como cochos, que recebem um tampo e têm cinco cordas (originalmente de tripas, hoje de náilon) e trastes de barbante. (VILELA, 2004, p. 79)

Outras violas também brasileiras sao: a viola de cabaça, encontrada na regiao Centro-Sul do Brasil; a viola de buriti, criada na comunidade de Mumbuca, no Jalapao, e que possui apenas 4 cordas; e a viola machete, encontrada no Reconcavo Baiano, presente no samba de roda. (ASSIS VALERIANO, 2018, p

Sobre as afinações possíveis para o instrumento, podemos citar algumas famílias: a de nome Natural (4a justa, 4a justa, 3a maior, 4a justa), como a Cana Verde(4a justa, 3a maior, 4a justa, 4a justa) ou Paraguaçu (4a justa, 4a justa, 3a maior, 3a menor); a do Cebolão(4a justa, 3a maior, 3a menor, 4a justa), Boiadeira (5a justa, 3a maior, 3a menor, 4a justa) ou a Riachão (4a justa, 3a maior, 3a menor, 3a maior); na do Rio Abaixo (5a justa, 4a justa, 3a maior, 3a menor), há a MeiaGuitarra (4a justa, 5 a justa, 3a maior, 3a menor) ou a utilizada por Almir Sater em Corumbá (5a justa, 4a justa, 3a maior, 4a justa) (Vilela, 2010, p. 333).

Alguns expoentes violeiros:

Nomes como Zé do Rancho, Zé Carreiro, Tião Carreiro, Bambico, Tião do Carro, Gedeão da Viola, Zé Coco do Riachão, Zezinho da Viola, Renato Andrade, Almir Sater, Heraldo do Monte, Antonio Madureira, Adauto Santos, Índio Cachoeira, Zé Mulato e Helena Meirelles ficarão para sempre em nossas memórias e ouvidos. Contribuição imensa à viola deu Tavinho Moura, que trouxe ao instrumento todo o seu talento de compositor, ampliando com beleza e poesia o seu uso. (Vilela, 2010, p 334)




Referências:

Ficha Catalográfica

ASSIS VALERIANO, Laís de. Adelmo Arcoverde e a viola nordestina na música instrumental de Recife. Universidade Federal da Paraíba: João Pessoa, 2018.

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 10 ed. São Paulo: Ediouro, 2001.

CORRÊA, Roberto Nunes. Violas brasileiras. Circuito 2015/2016 Sonora Brasil. Rio de janeiro: Sesc, 2015.

RUAS, José Jarbas. Portugal e Brasil: entre violas e práticas socioculturais no contexto transatlântico. In: Rev. Tulha, Ribeirão Preto, v. 2, n. 2, p. 200–226, jul.–dez. 2016. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/revistadatulha/article/download/120529/129295/254971> Acesso em 11/03/2021.

VILELA, Ivan. Na toada da viola. In: Revista USP, n. 64. São Paulo, dezembro/ fevereiro 2004-2005. p. 76-85. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/13392/15210. Acesso em 06/06/2021.

_____________.Vem viola, vem cantando. In: Estudos Avançados 24 (69), 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/ea/v24n69/v24n69a21.pdf> Acesso em 11/03/2021.

 

Referências audiovisuais:

Festival Violeiros do Brasil - Adelmo Arco Verde e Laís de Assis tocam viola dinamica

Roberto Correa apresenta a viola de cocho

 

Maurício, morador da comunidade quilombola de Mumbuca, toca viola de buriti

Mestres do fandango, viola de fandango

Reportagem do Jornal de Minas sobre a viola de queluz

Helena Meireles toca viola 

Zé do Rancho e Tupy tocam viola 

Índio Cachoeira toca no Instrumental Sesc Brasil, 2014 

 Almir Sater e Tavinho Moura tocam viola 

 

Fotos:

https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.tribunaribeirao.com.br%2Fsite%2Falmir-sater-e-a-viola-de-10-cordas%2F&psig=AOvVaw3djC7Tj4XXFxzdHeP5zUJ4&ust=1623447871647000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCLCsvfqEjvECFQAAAAAdAAAAABAD

Almir Sater tocando viola caipira

https://paraiba.pb.gov.br/noticias/projeto-2018de-repente-no-espaco2019-apresenta-afonso-pequeno-e-miro-pereira

Miro Pereira tocando viola dinâmica